Monday, November 05, 2012

Matriz Felicidade





Na minha quarta classe, a minha Professora da primária propôs-nos um desafio. Uma pequena composição sobre a Vida e o que nós entendíamos sobre as suas vicissitudes. Logicamente a turma entrou em pânico. Ninguém estava preparado para escrever sobre um assunto tão complexo. A nossa vida era curta, os objectivos simples, o futuro parecia muito, muito longe.

Recuando até momento em que as mãos suavam, o olhar enfrentava uma folha cheia de linhas vazias, a imaginação espremida e nada. Nenhuma palavra, nenhuma ideia, nenhuma solução.

Depois de algumas tentativas, a razão fez com que todas as tentativas complexas de impressionar a Professora se resumissem num pensamento simples: “ O que eu quero para a minha vida … ser feliz”.

Escrevi algumas linhas (poucas) sobre o que me fazia realmente feliz e, como o que eu aprendia todos os dias me tornava mais preparado para o conseguir. Simples.
Passados todos estes anos dou por mim a pensar no mesmo tema, não por imposição, mas por necessidade. Por vezes a vida vira-nos as costas, acontecem muitas coisas ao mesmo tempo que testam todas as nossas forças e fragilidades.

Devemos questionar tudo, todos? A justiça ou injustiça?

Quando a maré está a nosso favor não questionamos a fortuna, acreditamos que o mérito é nosso, que merecemos porque fizemos por merecer.
A vida muda todos os dias para todos. Golpes fortíssimos põem toda a nossa felicidade em causa, mas não nos podemos desviar do nosso caminho. Devemos focar as nossas energias no essencial, ancorar os nossos princípios nas pessoas que realmente importam e transportar a memória das que nos foram roubadas.

A felicidade é uma matriz complexa, como tal, devemos simplifica-la e resolve-la. Quem ambiciona uma felicidade absoluta morrerá desorientado, esgotado e triste.
Aproveitem a simplicidade das coisas boas, dos momentos únicos, dos abraços sentidos, dos sorrisos sinceros, das conversas que nos fazem perder no tempo.

Presem a felicidade construída na alegria de quem vos faz bem. Estejam presentes, saibam ouvir, não deixem nada por dizer, façam por ser mais fortes todos os dias.

Curiosamente pouco mudou desde que entreguei a pequena composição à minha Professora. As poucas linhas espremidas reflectem o mesmo conteúdo mais de vinte anos depois.
Não entreguem a vossa vida a energias superiores, façam por merecer e construam o vosso destino.


Agradeçam a sorte e sejam felizes.

Friday, September 14, 2012

Oração





Permite-me estar revoltado.
Permite-me estar contra tudo e contra todos.
Deixa-me exigir justiça, pedir um pouco daquilo do tudo que nos roubaste agora.
Faz com que acredite.
Não percebo os teus caminhos, a tua lei, a tua misericórdia.
Não consigo aceitar o destino, a tua vontade.
Revolta-me a fé que persiste.
Revolta-me entregar tudo nas tuas mãos.
Rezo para que seja.
Peço para que aconteça.

Traz de volta a nossa vontade
Obrigado.

Sunday, September 02, 2012

Estranha forma




Estranha forma de dizer
Abafar sons, calar mundos
Saberes mudos, segredos
Cantares surdos, medos

Estranha forma de pedir
Orar de alma vazia
Agradecer profano
Exigir modesto, heresia

Estranha forma de escrever
Traduzir vidas, olhares
Ritmos, tempos, filosofias
Arcos, sermões, romarias

Estranha forma de sentir
De ocupar sem estar, ausente
Proibir sentido
Acreditar cego, crente

Monday, May 07, 2012

Ser para Parecer



Todas as nossas ações sofrem um processo de avaliação diário, onde o esforço desenvolvido se traduz numa equação básica de resultados.
De nada serve o trabalho se no final o esforço não superar, ou no mínimo alcançar o objetivo traçado.
Vitórias morais podem alimentar a alma, nutrir o ego, mas esbarram na fria observação que dita quem realmente segue em direção ao olimpo ou cai no alçapão da normalidade.

Mas será que atingir o objetivo é suficiente?

Alguns acontecimentos recentes mostram que dificilmente “ser” é suficiente. A conjugação do “ser com o parecer” é essencial.

“À mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta”

Desportivamente Victor Pereira foi campeão nacional. Todos concordamos que no F.C.Porto não é novidade, o treinador cumpriu o objetivo mínimo. Ser campeão não foi suficiente. A força de parecer abafou o essencial de ser.
“Parecer” exerce hoje em dia uma força monopolizadora. Tudo soa a esforço de marketing para que a génese esteja no “parecer “.

Devemos lutar contra esta tendência. A origem tem que assentar num esforço de “ser” para que naturalmente “pareça”.
Nestes tempos conturbados, não devemos esquecer o essencial, nem avançar etapas nos processos estipulados pelos nossos princípios e educação.
O Tempo encarregar-se-á de abafar o “parecer instantâneo”, reforçando o culto do “ser”, embora o sucesso esteja sempre ligado à arte de os conjugar.