Friday, June 30, 2006

Verdade fácil


Muito do que dizemos é reduzido ao momento, ao efeito rigoroso do agora que nos consome … não altera, não surpreende … não seduz.
O momento certo condiciona a intemporalidade da resposta, da surpresa, da conquista.
Os segundos, aliados ao som perfeito das palavras, podem adormecer eternamente um sentido repleto de sentir… um dom digno de agir.

As palavras perfeitas temperam a verdade que nos visita, decalcando a memoria que nos obriga. Funcionam como cartas escritas por nós …mas lidas por um outro, um alguém que se faz descobrir, que recorre às nossas forças ..para nos fazer sentir bem.

Esta “verdade fácil” quebra resistências poderosas, encurta inibições, embebeda saberes pragmáticos.

Todo o veneno tem um antídoto… uma solução para quebrar ilusões fáceis, um método rigoroso de negar… um silêncio que gela…esconde.
A vida ensina que as palavras bonitas devem ser ditas, embora muitas vezes surjam como uma espécie de lei compensatória: “dizemos o que queremos ouvir”. Prefiro não pensar assim. Acredito que toda a verdade tem um lado estético perfeito, uma combinação sublime de sons e tempo que nos transporta para o que realmente sentimos, para a verdade única… a nossa.
Mesmo correndo o risco de a nossa maior verdade perder o encanto e não o ser amanha, ficará marcada pela coragem de assumir o instante, de traduzir a alma numa imagem que o tempo guarda… e a memória venera.