Sunday, December 26, 2010

Medos Rasgados


Vinho sabedor do destino, da cor
Aroma amargo, pela metade…
Nascente desejada, distante
Sabor órfão de saudade

Pressa desmedida de crescer, mudar
Medida de sentir único, urgente
Grito gasto na fonte
Esmagado pela escolha, pelo lugar

Condição de ser pela razão
De ser pela arte de negar, pelo sentir
De ser a tentar, partir
Querer de céu, real chão

Toque tecido a frio
Voz trémula de querer
Luz com nome, passado, brio
Alma parva por saber

Mapa frágil de regressos
Inspirado, certo, gigante de rigor
Passos fortes, medidos
Rota rasgada a suor

Thursday, February 11, 2010

Portugal sem Coração


Portugal, este país à beira mar plantado, está num impasse digno de reflexão.
A economia bateu no fundo, a credibilidade dos políticos simplesmente não existe e os números, muitas vezes refúgio das inverdades moralizadoras, reflectem uma conjuntura preocupante.

A política dos últimos anos esbanjou dinheiros cruciais para um desenvolvimento sustentado. Substituiu o conhecimento, uma rede de comunicação eficaz, a modernização tecnológica, por um sentimento snob de facilitismo e riqueza patética.
Andámos embriagados com subsídios, formações e outras artes de entreter.

Com o som da crise de fundo, fomos vivendo muito acima das nossas capacidades, hipotecando gerações futuras com a mesma facilidade que digeríamos a realidade.

A culpa não deve morrer solteira.
O veredicto é simples. Culpados somos todos nós. Políticos, povo, todos.
Políticos, pela enorme incompetência, impunidade e esquizofrenia económica.
Povo, porque credibilizou todo este espectáculo, aplaudindo em conformidade com vontades egocêntricas.

Dizia um amigo em conversa distante “… não te esqueças que os governantes também são portugueses”.
Não quero acreditar que o mal é genético, que a arte de gerir ficou condicionada com o fim dos descobrimentos.
A verdade é que não acredito neste sistema, nesta espécie de democracia.
Logicamente reforço todo o tipo de liberdade, todas as arduamente conseguidas com a revolução de Abril, mas vivo com o sonho de um futuro melhor, muito melhor.

A evolução de um país faz-se de conhecimento, de pessoas e de oportunidades.
Só com a maximização destes três factores se conseguirá um Portugal mais forte.

Gostava de estar profundamente enganado, de ser mais um rezingão, mal-encarado com sede de desgraça, gostava… como gostava!

Thursday, January 28, 2010

Virar a página





Virar a página entusiasma o poeta, sedento de linhas, de história, de personagens.

Encerrar um capítulo exige reflexão. Uma retrospectiva alucinante de momentos, de partes ricas de conteúdo, sedentas de tempo e espaço.
Exige uma espera que seca a alma, nutre a memória, alimenta “ses”, decepa espíritos de mudança.
O medo de ler a última sílaba mescla o sagrado com profano. Agoniza a vontade de pecar, de espreitar, de saber um pouco mais sem tirar os pés da segurança do nosso chão.
O “para sempre” criado soa a pouco, esfuma-se sem se notar.
O envelhecer eterno confunde e perde-se no tempo viciado em partes baralhadas sem partir.

Página virada, capítulo encerrado e agora?

Deitar a cabeça e adormecer. Dormir um sono profundo até perder as forças. Sentir cada momento como algo distante e obrigar tudo o que sentimos nosso a partir, sem vontade de voltar.

Reflectir, pedir um dom divino que nos oriente, que reescreva vontades, artes de crer, sabedorias de agir.
Afogar Velhos do Restelo e ressuscitar a alma lusitana.

Acreditar.
Fundamentalmente acreditar que o vento orienta vontades sustentadas em trabalho e que qualquer viagem se torna mais fácil na companhia certa.

O olhar procura um livro novo, novas capítulos, com a certeza que as personagens vividas são já parte da própria história.


Uma pequena pausa…
O Poeta entusiasmado voltará a virar a página…